Estruturas construídas para o evento
não fizeram o futebol decolar no país
Com vista para a turística
Montanha da Mesa e cercado por um parque à beira do Atlântico, o belíssimo
estádio de Green Point se tornou cartão postal da Cidade do Cabo e o principal
elefante branco da Copa. Erguido a um custo de quase R$ 1 bilhão aos cofres
públicos, além de passar boa parte do ano absolutamente vazio e sem uso, ainda
causa um prejuízo de R$ 10 milhões anuais somente em manutenção.
No final do ano passado, a
prefeitura da Cidade do Cabo chegou a considerar a possibilidade de demolir a
construção a um custo de R$ 4 milhões, porém acabou desconsiderando a ideia e
hoje busca soluções para tornar o estádio viável economicamente.
O exemplo da Cidade do Cabo não é
o único caso de desperdício de dinheiro entre as arenas erguidas na África do
Sul para o Mundial de 2010. Em Durban, o gigante Mosses Mabhida não atrai
público o suficiente com o futebol do time local AmaZulu. Para tentar compensar
gastos com manutenção, o estádio é usado para shows e feiras. Além disso, de
segunda à sexta, as portas ficam abertas para o público que deseja pular de
bugee jump.
No Nelson Mandela Bay, construído
na cidade de Porto Elizabeth, a realidade não é muito diferente. Tendo recebido
menos de 20 jogos de futebol desde o fim da Copa do Mundo de 2010, a
administração do estádio vende o local como o "salão perfeito para a sua
festa de casamento" e já sediou quase 60 eventos privados nos últimos
quatro anos.
Para o economista e urbanista
Pillay, a atual realidade dos estádios sul-africanos não será necessariamente o
futuro do Brasil.
— Os brasileiros são grandes fãs
do esporte, não acho que as arenas ficarão vazias. Aqui na África do Sul o
futebol nacional não tem tanta força. Tirando Soccer City, os estádios se
mantém hoje por causa do rúgbi — diz se referindo ao Loftus Versfelf, de
Pretória, e ao Ellis Park, em Joanesburgo, que também são palco para partidas
de rúgbi, uma das grandes paixões da nação.
Soccer City ajudou a desenvolver
Soweto
Modernizado para a Copa do Mundo
de 2010, Estádio Soccer City custou mais de R$ 700 milhões à província de
Gauteng. Mas entre a manada de elefantes brancos que hoje assombram o país,
talvez seja a única construção que compensa o gasto de milhões. Apesar de não
conseguir se sustentar somente com jogos de futebol e também precisar se render
a shows privados e partidas de rúgbi, os investimentos resultaram no
desenvolvimento da área de Nasrec.
De acordo com relatório do
governo municipal, as autoridades viram a Copa do Mundo como uma oportunidade
de "restabelecer a região economicamente, socialmente e
ambientalmente". Antes do Mundial, Nasrec era abandonada. Hoje, tem
parques, postos de gasolina, avenidas e um anfiteatro que abriga até 500
pessoas.
Localizado às margens da township
de Soweto, que abriga 40% da população de Joanesburgo, o estádio também
garantiu uma melhoria no acesso ao transporte público e hoje facilita a
locomoção dos moradores.
Futebol não evoluiu
Mais de uma década desde o fim do
apartheid, e o futebol ainda é considerado um "esporte de negros" na
África do Sul.
— Achei que a Copa fosse mudar um
pouco essa realidade, já que brancos, negros e mulatos se uniram para torcer.
Mas quando o evento acabou, a união terminou junto — reclama Thabo
DladlaDladla, diretor e fundador de um programa que oferece aulas de futebol
para jovens e crianças carentes.
Escritor do livro
"Desenvolvimento e Sonhos: a legacia urbana da Copa", o economista
sul-africano Udesh Pillay concorda e afirma que faltou planejamento do governo.
— O Departamento de Esportes e
Recreação deveria ter criado projetos para manter esse amor pelo futebol vivo —
explica.
Enviado por: Marcos Vinícius
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