sexta-feira, 22 de agosto de 2014

ÁFRICA DO SUL ACUMULA ESTÁDIOS SEM UTILIDADE APÓS COPA

Estruturas construídas para o evento não fizeram o futebol decolar no país


Com vista para a turística Montanha da Mesa e cercado por um parque à beira do Atlântico, o belíssimo estádio de Green Point se tornou cartão postal da Cidade do Cabo e o principal elefante branco da Copa. Erguido a um custo de quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos, além de passar boa parte do ano absolutamente vazio e sem uso, ainda causa um prejuízo de R$ 10 milhões anuais somente em manutenção.
No final do ano passado, a prefeitura da Cidade do Cabo chegou a considerar a possibilidade de demolir a construção a um custo de R$ 4 milhões, porém acabou desconsiderando a ideia e hoje busca soluções para tornar o estádio viável economicamente.
O exemplo da Cidade do Cabo não é o único caso de desperdício de dinheiro entre as arenas erguidas na África do Sul para o Mundial de 2010. Em Durban, o gigante Mosses Mabhida não atrai público o suficiente com o futebol do time local AmaZulu. Para tentar compensar gastos com manutenção, o estádio é usado para shows e feiras. Além disso, de segunda à sexta, as portas ficam abertas para o público que deseja pular de bugee jump.
No Nelson Mandela Bay, construído na cidade de Porto Elizabeth, a realidade não é muito diferente. Tendo recebido menos de 20 jogos de futebol desde o fim da Copa do Mundo de 2010, a administração do estádio vende o local como o "salão perfeito para a sua festa de casamento" e já sediou quase 60 eventos privados nos últimos quatro anos.
Para o economista e urbanista Pillay, a atual realidade dos estádios sul-africanos não será necessariamente o futuro do Brasil.
— Os brasileiros são grandes fãs do esporte, não acho que as arenas ficarão vazias. Aqui na África do Sul o futebol nacional não tem tanta força. Tirando Soccer City, os estádios se mantém hoje por causa do rúgbi — diz se referindo ao Loftus Versfelf, de Pretória, e ao Ellis Park, em Joanesburgo, que também são palco para partidas de rúgbi, uma das grandes paixões da nação.
Soccer City ajudou a desenvolver Soweto
Modernizado para a Copa do Mundo de 2010, Estádio Soccer City custou mais de R$ 700 milhões à província de Gauteng. Mas entre a manada de elefantes brancos que hoje assombram o país, talvez seja a única construção que compensa o gasto de milhões. Apesar de não conseguir se sustentar somente com jogos de futebol e também precisar se render a shows privados e partidas de rúgbi, os investimentos resultaram no desenvolvimento da área de Nasrec.
De acordo com relatório do governo municipal, as autoridades viram a Copa do Mundo como uma oportunidade de "restabelecer a região economicamente, socialmente e ambientalmente". Antes do Mundial, Nasrec era abandonada. Hoje, tem parques, postos de gasolina, avenidas e um anfiteatro que abriga até 500 pessoas.
Localizado às margens da township de Soweto, que abriga 40% da população de Joanesburgo, o estádio também garantiu uma melhoria no acesso ao transporte público e hoje facilita a locomoção dos moradores.
Futebol não evoluiu
Mais de uma década desde o fim do apartheid, e o futebol ainda é considerado um "esporte de negros" na África do Sul.
— Achei que a Copa fosse mudar um pouco essa realidade, já que brancos, negros e mulatos se uniram para torcer. Mas quando o evento acabou, a união terminou junto — reclama Thabo DladlaDladla, diretor e fundador de um programa que oferece aulas de futebol para jovens e crianças carentes.
Escritor do livro "Desenvolvimento e Sonhos: a legacia urbana da Copa", o economista sul-africano Udesh Pillay concorda e afirma que faltou planejamento do governo.
— O Departamento de Esportes e Recreação deveria ter criado projetos para manter esse amor pelo futebol vivo — explica.

Enviado por: Marcos Vinícius

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